Um contar de vida da Faxineira
Estava adormecida em meu coração a alma dessa Mulher...
Optei em parar por um tempo para não ceder à tristeza como pressinto no olhar dela.
Eu não conseguia prosseguir, levar adiante a minha função de varrer,varrer,varrer, romper e jogar fora todos os elos que levam para um mundo de sonhos e solidão...Resolvi, então, descansar um tempo para não perecer como a Mulher ...
Por que tantos lamentos calados, palavras amordaçadas pela precaução?Por que tanto medo, Mulher?
Quanta solidão,quantos momentos sós,quantas idéias correndo loucas em sua ment,quanto desespero eu vejo nela em não poder tocar a sua própria vontade, banir a saudade e voar..voar...voar, como eu faço em momentos de desencanto!
Falta-lhe o cavalo alado...
Pensei então em contar uma história para essa Mulher .Quero ser a sua companhia hoje num dia tão especial ...
Fazer-lhe companhia e dizer-lhe que muitas mulheres também são solidão sem tristeza, lacunas que não pdoerão ser preenchidas ,mas em momento algum, presas à depressão.
Escute, Ser que silencia a vontade de voar, o que vou lhe contar:
Havia uma mulher que sonhava muito...adolesceu sonhando com um sentimento que nunca encontrou. Adentrou na fase adulta acreditando que a utopia fazia parte de seu mundo porque ainda buscava o que lhe atormentava a alma,mas lhe dava ânimo para viver.
E ampliava a espera em cumplicidade com a lua, enviando-lhe todos os seus desejos, seus quereres...
Ela tentou construir um mundo longe do que idealizava.Abriu a janela e viu uma fresta iluminada invadindo a sua alma e aprendeu que o seu corpo podia abrigá-la, alimentá-la até estar pronta para desabarochar. A fresta tornou-se viva.
E essa mulher descobriu a felicidade de transferir todos os seus sonhos para a fresta que cada dia se tornava mais foco iluminado em seu viver, que chegou , aconchegou, permaneceu.
A mulher continuava sonhando e querendo aquele sonho que lhe acompanhou na adolescência, prosseguiu em seu crescimento e permaneceu intacto,sonoro,etéreo...
Continuava olhando os céus, vivenciando as fases da lua, acreditando no poder lunar ...
E tinha com ela seres especiais vindos de seu ventre e ou presenteado por Deus.Era preenchida de amor ,porém sentia vazios que precisavam ser ocupados.
Pouco tempo depois a mulher foi avisada de novas frestas que iluminariam mais ainda a sua vida, preenchendo todas as lacunas que a mantinham eterna sonhadora e ampliando o seu universo. Os novos focos de luz chegaram em forma de alegria e esperanças diversas, transbordando o mundo da Mulher em espera de sons, arlequins, ,conhecimentos,colombinas e pierrôs solitários, mas embasados na eterna alegria que é a vida.
E as frestas juntaram-se e ficaram iluminadas mostrando, a partir daquele instante, a verdadeira finalidade da vida daquela Mulher: ser companhia,preservação de amizade,armazenamento de emoções,transbordamento de amor e inspiração de todas as dependências afetivas que alimentam o Homem...
E a mulher viu solidificando a transformacão de sua solidão interior alicerçada na crença de que o seu sonho poderia existir, aprendendo a olhar para os céus e a ter fé.
E aprendeu e entendeu a funcão de sua vida. Atingiu a maturidade plena porque já tinha reconhecida,na alma, a maternidade de todas as formas, a amizade, a realização e a alegria de ser feliz por frestas iluminadas que poderiam ser filhos, amigos, encontros e desencontros...
Um dia a vida chegou ao seu coração falando-lhe de alma macerada, da necessidade de olhar para as pessoas com outros olhares e ela teve, diante de su’alma , a certeza da deslealdade , do desamor, do desrespeito.E aprendeu, a fórceps , que alma também pode ficar ferida de mágoas, de incredulidade, de amizade e companheirismo traídos.
Então entendeu a finalidade do que ganhou que era abraçar as suas frestas, em silêncio, pedir colo de forma muda, buscar respostas sem nada falar.Era preciso preservar a rotina vivencial daquelas frestas que tanto iluminavam a sua vida e enchiam o seu coração de realizações.
Sofria,mas aprendeu as compensacnoes e continuava olhando para os céus, perseverando na existência dos seus sonhos que não a abandonavam.
E viu um anjo -todos nós temos um em nossa vida- passeando pelos céus , que chegou até a lua e acreditou que poderia tocá-la com palavras, mesmo que no espaço sideral, dividido por distâncias , numa noite que poderia nem ter estrelas...
E a Mulher fortalecida não questionou se alguém poderia acreditar que a lua existe, se uma Estrela longínqua, menina-lúdica-de-outros-mundos poderia atuar em sua’lma, porque estava plena de amor e encontrado a verdadeia razão de sua essência.
Essa história é para a Mulher sozinha sobre uma mulher que eu conheci e que acreditava no sonho que alimentava a sua vida, sabia da existência da lua, a estrela-menina, do sol que chega sem avisar e se torna um permanente resplandecer anímico.É dela que quis falar. Da mulher que acreditou e encontrou o seu sonho.
E abraçou,pelo pensamento, Vênus, a sua estrela-menina-lúdica-de-outros-mundos, segurou a felicidade e o sonho que sonhou a vida toda , vivenciou todos os abraços que nunca tinha recebido, todos os afagos que nunca havia conhecido e viu em sua essência que alma de quem tem solidão pode ser valorizada e olhada com olhos de alma.
É uma história para ouvir e deixá-la encantada no coracão...
A Mulher ainda existe, sempre existirá.O sonho que acalentou durante toda a vida e, como um cometa , foi real pouco tempo, ela preserva num porão especial, onde ninguém pode adentrar, só a utópica vontade de,teimosamente, ainda acreditar que novas frestas iluminadas poderão abri-lo.
A Mulher ainda vive. Olha para os céus com a mesma intensidade,mas o brilho do seu olhar não é o mesmo..Tem satisfação concebida pelo que vivenciou e aprendeu sabendo que alma pode ser tocada pela saudade, recomposta, transformar-se em (im) e possibilidades,amargura e anseios de felicidade,mas que tudo modifica quando chegam muitas frestas iluminadas ,já transformadas em imensidão de luzes, para permanecerem em seu ser.Intactas, verdadeiras, eternas.
Espero que essa Mulher tenha escutado a minha história. Que ela permaneça, mesmo que,sozinha no mundo espacial que um dia acreditou ser seu, acreditando.
Por que tanta solidão, tantos gritos engasgados, tantos olhares enternecidos voltados para lugar nenhum se há a possibilidade de sempre focos de luz invadirem a nossa vida?
A autora Ana Virgínia Santiago é jornalista, escritora e poeta